O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, classificou nesta quinta-feira (20) como "erro grave" e "erro irreparável" a ação de um policial militar do Bope (Batalhão de Operações Especiais) que resultou na morte de um morador do morro do Andaraí, na zona norte da capital, na última quarta-feira (19). Na ocasião, o PM confundiu com uma metralhadora uma furadeira que estava com o homem e atirou nele.
O policial militar, que estava há dez anos no Bope, foi indiciado por homicídio doloso (quando há intenção de matar), mas responderá o inquérito em liberdade. Ele foi afastado de suas funções.
- É uma vida que foi perdida por causa de um erro do Bope.
Beltrame afirmou que os policiais do Bope, considerada tropa de elite da polícia, são os que mais treinam, mas que são seres humanos passíveis de erro. Ele declarou que não há episódios recentes em que a unidade cometeu equívocos em operações.
- O Bope tem trabalhos fantásticos para fazer. O Bope dá instrução para polícias de todo o país e de outros lugares do mundo, mas é composto por seres humanos e seres humanos erram. E, infelizmente, essa pessoa errou e vai pagar por isso. Agora é o processo disciplinar e a Justiça que farão a avaliação.
O secretário afirmou que sua maior preocupação é amparar a família da vítima, mas salientou que isso também não resolverá o problema "porque não vai trazer a vida de volta".
- Vamos deixar passar esse momento de dor. Se tivermos que ir até a família ou chamá-los para vir à secretaria, não há problema.
Hélio Ribeiro, de 47 anos, trabalhava como fiscal de supermercado. Ele deixou mulher e dois filhos. Foi enterrado na tarde desta quinta-feira sob clima de forte emoção e revolta. Nenhum representante da Secretaria de Segurança Pública esteve presente no sepultamento.
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB), pediu desculpas à família do supervisor morto pelo Bope.
No enterro da vítima, acompanhado por cerca de 150 pessoas, a prima da viúva, Marília Barbosa, disse que família não aceita desculpas e repudiou as explicações do comandante do Bope, Paulo Henrique Moraes, para o crime.
- Mostrar que uma furadeira pode ser confundida com uma metralhadora? Para um policial, o exame de vista deve estar ok para poder distinguir os dois. Os policiais estão nervosos, estressados e com medo. Se a atitude é suspeita, eles atiram.
A morte do supervisor ocorreu quando policiais do Bope checavam a denúncia sobre um ponto de venda de drogas arredores de uma vila de classe média, na Rua Ferreira Pontes, um dos acessos ao Morro do Andaraí. De folga, o supervisor de vendas subiu ao terraço para consertar um toldo de plástico. Segundos depois, um projétil de fuzil entrou pelo lado direito do corpo de Hélio, atravessou a axila esquerda e furou o telhado. De acordo com a família, o supervisor morreu no mesmo instante.
A esposa da vítima acusou o Bope de truculência após o crime. Segundo ela, após o marido ser baleado, os policiais invadiram a casa, a xingaram e ordenaram que ela deitasse no chão. Ainda na 20ª Delegacia de Polícia de Vila Isabel, o capitão Ivan Blaz, relações públicas do batalhão, disse que foi dado um "brado de alerta" antes do tiro. Nesta quinta-feira, o comandante do Bope reafirmou que o procedimento do cabo foi correto.
O autor do disparo é descrito pelos colegas como um policial experiente e atua na linha de frente no momento da incursão da tropa nas favelas. Há 12 anos na PM, possui de milhares de horas em operações policiais. O cabo possui cursos de tiros nos Estados Unidos e na PF.
Perguntado sobre o que poderia ser feito para evitar mais episódios semelhantes ao que resultou no erro do cabo, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame disse:
- Os policiais do Bope são os que mais passam por treinamentos. Eles dão instrução para polícias de todos os Estados e de outros países. Eles são treinados excessivamente, mas a polícia é feita de seres humanos e, infelizmente, seres humanos também erram. Este foi um erro grave, mas não há nada que eu diga que vá reparar a dor que esta família está passando, que vá reparar esse erro.
Suspeita
Policiais do 6º Batalhão de Polícia Militar da Tijuca são acusados de executar dois traficantes no Morro do Andaraí, pouco antes da morte do supervisor. Na ação, Jhonamir Duarte dos Santos, o Peixe, de 21 anos, e Adriano Sacramento da Silva, o A-R, de 24, morreram. Uma pistola e uma granada foram apreendidas. A PM afirma que houve confronto.
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