O advogado da atriz Cissa Guimarães, Técio Lins e Silva, em entrevista concedida nesta sexta-feira (30), criticou a atitude de Rafael Bussamra, 25, que atropelou e matou o filho dela, Rafael Mascarenhas, 18.
- Ele não teve nenhuma manifestação de dor, de arrependimento. Ao contrário, é um comportamento arrogante. Não pediu desculpas, nem prestou socorro - afirma o advogado. - Pagou a polícia para encobrir o crime. O que se pode esperar de quem paga a polícia para esconder o crime? Nada. Não esperamos absolutamente nada deles - complementa Silva, frisando que nunca cogitou a hipótese de um encontro de Cissa com a família Bussamra.
Segundo o advogado, Cissa Guimarães quer se encontrar com a delegada à frente das investigações, Bárbara Lomba, titular da 15ª DP (Gávea), para expressar pessoalmente seu agradecimento pela forma como o inquérito está sendo conduzido.
- Estamos confiantes e com o reconhecimento do excelente trabalho que a doutora Bárbara e sua equipe vêm realizando. Estamos confiantes e agradecidos pela forma com que a polícia judiciária tem tratado o assunto, de maneira rápida, eficiente, correta - declara Silva.
Por sua vez, Spencer Levy, advogado da família Bussamra, reclama da cobertura jornalística do caso.
- É o caso do Rafael Mascarenhas. Morreu o Rafael Mascarenhas. A imprensa não trata como se fosse o Rafael Mascarenhas, trata como se fosse a Cissa Guimarães - enfatiza.
Ele acredita ainda que isso pode interferir na conclusão do inquérito.
- Como a mídia está em cima disso tudo, existe todo um sensacionalismo e com certeza isso [isso] deve influenciar a opinião da autoridade policial que está investigando e está sendo pressionada pela imprensa - diz.
De acordo com Levy, a família Bussamra está muito chateada por considerar que Rafael está sendo tratado como um marginal.
- É um jovem de 25 anos que estuda, que trabalha, que tinha uma vida comum e que hoje tem medo de sair de casa. Que seja feita a Justiça da maneira certa. Não é porque é foi o filho da Cissa Guimarães que ele (Rafael Bussamra) tem que ser execrado, crucificado.
Sobre a desistência do pai de Rafael de pagar a segunda parte da propina de R$ 10 mil combinada com dois policiais militares a fim de acobertar o atropelamento, Spencer Levy explica que a decisão foi tomada após a família tomar conhecimento da morte da vítima, e não por se tratar do filho de uma pessoa pública.
- O filho da Cissa Guimarães não é mais importante que um cidadão comum. A principal questão ali é a morte. Com certeza a dor da família (Bussamra) seria a mesma por saber que morreu um ser humano. O pior é você denunciar e ainda passar por corrupto. Ele (o pai de Rafael Bussamra) teve coragem de fazer uma coisa que ia mudar totalmente a vida dele, e, no entanto, a imprensa vem dizer que ele tem que ser indiciado por corrupção ativa. Eu acho isso lamentável - ressalta Levy, lembrando que a família ainda está com medo após ter denunciado à Polícia Civil o pedido de propina por parte dos PMs.
Espera pelos laudos
O Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) ainda não divulgou o laudo da perícia realizada no carro de Rafael Bussamra, que indicará a velocidade que o veículo andava no momento do atropelamento.
- Independente de qual seja a velocidade, isso não vai significar que se trata de ‘racha’. O acidente ocorreu, foi uma fatalidade [...] Não é só pelo fato de ter um outro carro junto que já se pode partir do pressuposto de que havia 'racha' - defende Levy. Ele sustenta que o caso configura homicídio culposo (sem intenção de matar), mas repete que só se pronunciará após a conclusão do inquérito.
Na tarde desta quinta-feira (29), a delegada Bárbara Lomba disse que o caso ainda não está fechado e que há possibilidade de indiciamento por homicídio doloso (com intenção de matar), mas destacou que qualquer decisão ainda requer outros detalhes importantes.
Embora cauteloso, Técio Lins e Silva menciona alguns elementos que poderiam ser usados no indiciamento por homicídio doloso.
- Tem a questão do homicídio intencional pelo ‘pega’, pelo ‘racha’, pelo excesso de velocidade, por andar por uma via interditada. Tem a questão da corrupção, que se soma à questão do homicídio, tem a omissão de socorro também. Várias questões serão definidas pelo Ministério Público. Prefiro aguardar a manifestação do MP e a conclusão do inquérito. Não quero precipitar-me à conclusão da delegada.
O laudo da reconstituição do acidente, realizada na madrugada da última terça-feira (27), deve ser concluído apenas na próxima semana.
Entenda o caso
Rafael andava de skate em um túnel da zona sul do Rio na madrugada de terça-feira (20), quando foi atropelado. Mascarenhas chegou a ser levado com vida para o Hospital Municipal Miguel Couto, mas não resistiu aos ferimentos. O motorista Rafael Bussamra confessou que atropelou o rapaz ao trafegar por um trecho interditado do túnel, mas nega que estivesse fazendo "racha", como informaram dois outros jovens que acompanhavam o filho da atriz.
Spencer Levy, advogado de Rafael Bussamra, afirmou que seu cliente foi vítima de má conduta policial no episódio. De acordo com ele, na madrugada do atropelamento, Bussamra queria prestar socorro à vítima, mas foi abordado por dois policiais militares que o levaram à delegacia, impedindo que o socorro fosse fornecido.
Em seu depoimento, Bussamra disse que foi levado até a delegacia na Gávea, onde chamaram seu pai e impediram que o rapaz registrasse um boletim de ocorrência. Enquanto esperavam, os policiais colocaram o rapaz em um carro da PM, que deu voltas pelo Jardim Botânico. O "passeio" foi flagrado por uma câmera de segurança. Na volta à delegacia, os policiais teriam informado que o jovem atropelado passava bem.
Ainda no depoimento, Bussamra disse à polícia que os dois PMs falavam com um terceiro pelo rádio. Depois, ameaçaram "destruir" a vida dele se não pagasse uma quantia de R$ 10 mil. Desse valor, ele pagou R$ 1.000 e já tinha em mãos outros R$ 6.000 quando, na tarde seguinte, soube que a vítima era filho da atriz. Nesse momento, segundo o advogado, Bussamra recusou-se a prosseguir com o pagamento da propina.
O advogado negou ainda que Rafael estivesse fazendo um "racha" e disse que o túnel não possuía sinalização de interdição. Para ele, somente o resultado da perícia, que não está pronto, poderá comprovar que o veículo dirigido estava a mais de 100 km/h no túnel.
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