Certa noite, nos anos 1990, a escritora japonesa Rieko Matsuura sonhou que seu dedão do pé havia se transformado em um pênis.
O sonho aconteceu no momento em que ela contemplava seu próximo livro, e serviu de tema vital para ajudá-la a escrever "A aprendizagem do dedão P", uma abordagem à la Fellini sobre sexualidade e gênero no Japão que se tornou um best-seller e ganhou um prêmio de literatura depois de ser publicado em 1993.
- Pensei durante muito tempo que eu gostaria de escrever sobre uma mulher cujas visões sobre a sexualidade mudam à medida que ela vive diversas experiências, mas eu não tinha certeza de como fazê-lo. Simplesmente ter o espírito de uma mulher assumindo o corpo de um homem teria sido muito brega - disse Matsura à Reuters durante uma entrevista sobre a publicação de seu livro em inglês.
- Eu pensei que deveria ter outro jeito de fazer isso, e justamente naquele momento tive o sonho.
"O dedão P", como a autora de 51 anos gosta de chamar seu livro, conta as aventuras de Kazumi, uma inocente jovem de 22 anos que acorda uma manhã para descobrir que, como no sonho de Matsuura, seu dedão do pé havia se transformado em um pênis.
Seu namorado quer lidar com a situação cortando o dedão fora, e Kazumi foge, se apaixonando por um pianista cego e se unindo ao grupo de música, cujos integrantes são todos sexualmente desajustados. Ela segue viajando, suas ideias sobre sexo, amor e gênero se transformando tanto que ela chega a ter um caso com outra mulher.
- Essa parecia ser a melhor forma de desafiar os pensamentos comumente aceitos sobre sexo, uma mulher que tivesse algo parecido com o órgão sexual masculino. Criar uma personagem inocente seria a forma mais eficaz de mostrar isso também, eu pensei - disse Matsuura. - Existem muitas pessoas no mundo como ela, que apenas imitam papéis sexuais e de gênero sem questioná-los. Encontrar pessoas que são elas próprias muito distantes da norma sexual a ajudou a abrir os olhos.
Apesar de o Japão tradicional não ter tabus específicos contra a homossexualidade e às vezes ter idéias abertas sobre sexualidade - com homens interpretando papéis femininos nos teatros kabuki, por exemplo -- o Japão pós-guerra ficou menos liberal.
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