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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Último filme de Heath Ledger estréia nesta sexta, 07 de maio

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Nos créditos finais de "O mundo imaginário do Dr. Parnassus", antes mesmo do nome do diretor Terry Gilliam, sobe a frase "um filme de Heath Ledger e seus amigos". A homenagem é uma reverência ao ator, que morreu em janeiro de 2008, meses antes de o filme ser concluído.

Mais que o último parágrafo em seu epitáfio, no entanto, "Dr. Parnassus" é uma evidência do talento do astro de "O segredo de Brokeback mountain". À vontade na tela, Ledger parece livre do suposto esgotamento emocional pelo papel de Coringa em "Batman - O cavaleiro das trevas", que estreou seis meses antes de sua morte.



Leitura de mentes

"O mundo imaginário do Dr. Parnassus" parte da chegada de um forasteiro, o desmemoriado Tony (vivido por Ledger), à trupe do Dr. Parnassus, interpretado pelo veterano Christopher Plummer (de "Em algum lugar do passado").

O grupo de teatro mambembe encena na Londres contemporânea espetáculos que leem a mente de seus espectadores. Só que o poder que permite a Parnassus interpretar o inconsciente de sua plateia e deslumbrá-la vem de um pacto de imortalidade feito com o Diabo (em criativa atuação do cantor Tom Waits).

O pagamento do combinado é a posse da filha de Parnassus (na pele da novata Lily Cole) assim que ela complete 16 anos - a não ser que a trupe consiga capturar cinco almas antes da data.

Tenso com a possibilidade de ver sua herdeira nas mãos do demônio, Parnassus aceita modernizar seus shows para amealhar as almas necessárias e sofre com a exigência cada vez maior de penetrar mentes alheias.



Ledger em cenários surreais

O passeio pelos devaneios da plateia é a deixa para Gilliam (de "Os doze macacos", "Brazil - O filme" e responsável pelas animações do seriado cômico "Monty Python") desfilar seu notório apreço pela psicodelia. O visual caprichado garantiu ao filme indicações aos Oscar de direção de arte e figurino em 2009.

"Dr. Parnassus" é repleto de paisagens deslumbrantes e perturbadoras, que lembram obras de arte. Há cenas que trazem à mente desde quadros de Dalí (as quilométricas escadas de uma das perfomances oníricas da trupe se assemelham às patas de mosquito dos elefantes do artista) até pinturas de Bosch (os cenários em que o Diabo trava contato com Tony se parecem com o inferno de "O jardim das delícias terrenas").



Visual acima do roteiro

Ledger se sai bem no papel do homem que chega à companhia de Parnassus querendo esconder seu passado e passa maus bocados tentando sustentar suas mentiras. Mas a lisergia estética de Gilliam não sustenta o roteiro na ausência do ator.

Para substituí-lo, o diretor acionou Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell, que se revezam nas cenas finais, assumindo o papel do protagonista e conferindo um ar ainda mais amalucado à já insana história. Dá para notar a perda no rumo da trama, como se o filme perdesse fôlego e sentido rumo a seu encerramento.

Ao final, a impressão que fica é a de que a viagem ao fantástico mundo de Gilliam vale mais para os fãs saudosos de Ledger e para os apreciadores de produções em que o esmero visual conta mais que o roteiro.

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