O corpo do pedreiro Adimar da Silva, 40 anos, ainda está no Instituto de Medicina Legal (IML) da capital goiana. Ele foi encontrado morto em cela isolada do Denarc de Goiânia, na manhã deste domingo (18). Segundo informações do instituto, nenhum familiar foi ao local, até as 11h30 desta segunda-feira (19), para fazer o reconhecimento formal e levar a documentação necessária para liberação do corpo. Não há confirmação de data para o sepultamento.
Ele ficou preso desde 10 de abril, quando confessou ter matado seis jovens que estavam desaparecidos desde dezembro de 2009. O pedreiro ainda indicou à polícia onde os corpos das vítimas estavam escondidos.
Ainda de acordo com o IML, o corpo do pedreiro já foi analisado pelo legista Paulo Afonso Campos, mas o laudo ainda não foi emitido por falta de documentação. Segundo o órgão, o verdadeiro documento do pedreiro, com nome de Ademar (a polícia informou que ele tinha mais de um documento e com nomes diferentes), está em poder da Polícia Civil de Luziânia. Para acelerar a liberação do corpo, uma cópia do documento deve ser enviada ao instituto por email.
Investigação
A Polícia Civil de Goiás informou que a corregedoria do órgão abriu uma sindicância para apurar a morte do pedreiro na cela do Denarc de Goiânia. Segundo a polícia, o pedreiro foi encontrado enforcado com uma tira do forro do colchão da cela por volta das 12h30 de domingo. O delegado Norton Luiz Ferreira, que chefia a comunicação da Polícia Civil, informou que os policiais que estavam de plantão no Denarc e os presos serão ouvidos. A sindicância deve ser concluída em 15 dias, ainda segundo ele.
As investigações deverão ser acompanhadas pelo Ministério Público (MP) de Goiás. A procuradoria-geral de Justiça de Goiás pediu que dois promotores da área criminal acompanhem as investigações sobre a morte do pedreiro, segundo nota divulgada pelo MP.
'Queima de arquivo'
A notícia da morte do pedreiro surpreendeu os parentes dos jovens assassinados, que ainda aguardam angustiados a identificação de cada vítima. Só então será possível fazer a última homenagem aos rapazes. Para dona Aldenira Alves de Souza, mãe de Diego, uma das vítimas do pedreiro, a morte de Adimar "foi como uma queima de arquivo".
- Foi como uma queima de arquivo. Como pode continuar a investigação se ele não existe mais? - questiona Aldenira Alves de Souza, mãe de Diego, um dos adolescentes mortos.
- Já que eles morreram os seis juntos, eu quero que eles sejam velados juntos, enterrados juntos - diz Sirlene Gomes, mãe de George, outra vítima.
Desde domingo passado, Adimar estava sozinho numa cela da Delegacia de Repressão ao Narcotráfico (Denarc), em Goiânia. Segundo a Secretaria de Segurança, na tarde de sábado (17), detentos ouviram quando o pedreiro rasgou o colchão.
- Foi feita uma trança com o tecido que reveste colchão. Quem fez isso tinha muita paciência - disse a perita criminal Iracilda Coutinho.
Os detentos dizem que, por volta das 12h deste domingo, o pedreiro abriu o chuveiro da cela. Minutos depois, ele foi encontrado morto enforcado.
- Eu estive no local. Tudo, aparentemente, indica que foi suicídio - disse o corregedor da polícia, Sidnei Costa e Souza.
A Corregedoria da Polícia Civil e o Ministério Público vão investigar as circunstâncias da morte.
Um dia após ser preso, o pedreiro prestou depoimento à polícia, que apresentou a ele um cartaz com as fotos dos seis jovens assassinados. Adimar confessou.
- Doutor, eu sei que eu matei os seis. Depois que eu matei, tirei as roupas - disse.
Ele disse ainda que tinha sonhos em que matava pessoas e que ouvia vozes. Participaram do interrogatório dois delegados e dois senadores.
Parentes de vítimas apontam falhas
Parentes das vítimas apontam uma sucessão de falhas na investigação.
- Se eles sabiam que esse homem era um pedófilo, por que soltaram ele? Soltaram para ele fazer mais vítimas - protesta Aldenira Alves de Souza, mãe de Diego, um dos rapazes mortos.
Em 2005, Adimar foi condenado a dez anos e dez meses de prisão por ter abusado de dois meninos. Ele foi solto em dezembro do ano passado, o que não poderia ter ocorrido porque era procurado na Bahia por tentativa de homicídio.
Com uma semana de liberdade, morando com a irmã em Luziânia, ele atacou o vizinho, Diego, de 13 anos. A mãe do adolescente diz que, no começo, os policiais não deram importância ao caso.
- Eles falaram que ele estava na casa de amiguinhos, que tinha ido para alguma festa - contou. - A gente falava ‘meu irmão não é de fazer isso. Ele não sairia de casa sem avisar’ - diz a irmã de Diego, Gláucia Gomes de Souza.
Segundo o Ministério Público, o boletim de ocorrência do desaparecimento do adolescente foi registrado no dia 31 de dezembro. Só depois do sumiço de Paulo, George e Divino é que a polícia abriu inquérito para apurar o que tinha acontecido, mas apenas com Diego. Na sequência, Flávio e Márcio desapareceram.
- Houve demora a partir do momento em que desaparecimentos foram tratados como meras ocorrências - afirma o promotor Ricardo Rangel.
No dia 25 de janeiro, a polícia de Luziânia abriu quatro inquéritos de uma única vez, sendo que os jovens sumiram em dias diferentes. Ainda de acordo com a promotoria, a investigação sobre Márcio, o último desaparecido, começou oficialmente no dia 27.
- Foi preciso sumir todos pra poder começar a reagir e eles verem que não era um caso normal. Não teria acontecido essas mortes todas. O meu sim, mas os outros, não - diz Aldenira.
Em reportagem exibida ontem a noite, o 'Fantástico' refez o trajeto do pedreiro. O que chama a atenção é que, mesmo sendo uma área de mata fechada, o local onde os corpos foram enterrados fica bem próximo do bairro onde as vítimas moravam. O trajeto a pé levou uma hora, o que significa que todas as evidências, as provas, os corpos e o assassino estavam o tempo todo num raio de dois quilômetros. Em nenhum momento, Adimar se escondeu.
Ele chegou a ficar frente a frente com a mãe de um dos jovens assassinados.
- Perguntei se não sabia de alguma casa pra alugar naquele local. Ele disse para eu chamar na vizinha que tinha casa de aluguel. Não percebi nada, não suspeitava de nada - contou Sirlene Gomes, mãe de George.
Israel Vitor Vasconcelos Silva, de 19 anos, morador da região, conta que, por pouco, não se tornou mais uma vítima.
- Ele perguntou quanto eu cobrava dele pra ajudar a descarregar um caminhão de telhas. Perguntei quanto ele pagava. Ele falou R$ 30 - disse.
O rapaz desistiu no caminho para a mata. Ele ajudou a polícia a fazer o retrato falado, divulgado só depois que todos os jovens tinham desaparecido. O retrato tinha poucas semelhanças com o pedreiro.
Celular
O Fantástico apurou ainda uma outra possível falha na investigação. O celular que estava com Paulo Victor, uma das vítimas, só começou a ser rastreado 22 dias após o desaparecimento dele. Foi justamente com a quebra do sigilo que os policiais descobriram que o telefone da vítima estava sendo usado no bairro onde morava o pedreiro.
- Mesmo assim, ainda foram três meses para poder chegar ao criminoso - diz a mãe de Diego.
A Secretaria de Segurança de Goiás informou que, a partir do segundo desaparecimento, a polícia começou a tratar o caso como um só e que seis equipes trabalharam nas investigações.
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