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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Viúva Negra já aprontava desde bem novinha

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Antes de trilhar uma trajetória criminosa, Heloísa Borba Gonçalves dava indícios de que não media esforços para conseguir o que queria. E, ainda adolescente, usava as mesmas artimanhas que fizeram com que ficasse conhecida como Viúva Negra, a mulher que enterrou três maridos e dois namorados. Ela só tinha 16 anos quando se apaixonou pela primeira vez. Morava na casa dos pais, no bairro Navegantes, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, quando se encantou por Carlos Pinto da Silva, pai de dois de seus filhos e comparsa em golpes no antigo INPS, na década de 70. Oito anos mais velho, Carlos era discípulo de Leonel Brizola e tinha sido preso político. Mas a diferença de idade e de experiência não fizeram com que ela desistisse.

No começo, se aproximou de uma irmã mais velha dele, uma professora de séries iniciais de 28 anos, que trabalhava numa escola em Esteio, região metropolitana de Porto Alegre. Sempre que a visitava, Heloísa trazia flores e pedia conselhos para conquistar o irmão. Mas Heloísa tinha outras armas. Mesmo garota, sabia seduzir. Era bonita. Com 1,60m e longos cabelos escuros, fisgou o homem que amava.

- Ela era muito avançada. Dizia coisas que estavam fora do nosso padrão de vida. Era bonitinha, baixinha e sedutora. E loucamente apaixonada pelo Carlos - relembra a irmã, que hoje tem 73 anos e mora em Santo Angelo, sua cidade de origem da família.

Mulher de temperamento explosivo e ambiciosa

Depois de conquistá-lo, revelou outras características, até então ocultas, como ambição, temperamento explosivo e infidelidade. Até hoje, a família de Carlos não acredita que a primogênita do casal, nascida em 1969, é filha dele. Aos 21 anos, Heloísa rompeu o relacionamento e se envolveu com outro homem mais velho. O médico gaúcho Guenter Joerg Wolf, de 38 anos, possuía as mesmas características das vítimas da Viúva Negra até o começo da década de 90. Além de ter 17 anos a mais, Guenter era solitário e tinha família pequena.

Em 27 de dezembro de 1971, o médico morreu num acidente automobilístico, numa viagem de Porto Alegre a Taquara, no Rio Grande do Sul. Cinco meses depois, Heloísa foi mãe pela segunda vez e registrou a menina com o sobrenome de Guenter, herdando uma casa na capital gaúcha. Depois disso, a filha dela só fez contato com a família do pai para obter dupla cidadania, já que o médico era filho de alemães.

Na década de 70, entre os 20 e 30 anos, a conta bancária de Heloísa aumentou. Ela perambulou por diversos estados, morando em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Brasília, distribuiu cheques sem fundo em companhias aéreas e aplicou golpes no antigo INPS ao lado do mesmo homem que a conquistou na adolescência. Carlos Pinto da Silva era apontado pela Polícia Federal como mentor do esquema.

Nem assim escapou de sofrer um atentado enquanto estava ao lado de Heloísa. Em dezembro de 1977, foi atingido por cinco tiros na saída do hotel Ondina, em Salvador. No primeiro depoimento, acusou Heloísa. Depois, retirou a queixa. Nos tempos de estelionatária, falsificou documentos para ingressar na faculdade de Direito.

Diploma falso de Ensino Fundamental e Ensino Médio

Até o diploma de Ensino Fundamental e Ensino Médio no Colégio Comercial Nossa Senhora Conquistadora, em Giruá, no interior do Rio Grande do Sul, era falso. Em correspondência enviada em janeiro de 1996, a direção comunicou que Heloísa jamais colocou os pés na escola.

Nem tão “bonitinha” como nos anos 70, Heloísa manteve a pose de mulher sedutora ao passar dos 30 anos. Aos 33, se casou com o securitário Irineu Duque Soares.

Com a morte dele, assassinado numa suposta tentativa de assalto numa viagem a Magé, na Baixada, apenas cinco meses depois do casamento, a advogada gaúcha se tornou viúva pela primeira vez. E, ao herdar três apartamentos na Zona Sul do Rio e um carro, conseguiu sofisticar o seu armário, com chapéus e roupas chiques.

Viúva enriquece com a morte de marido milionário

Mas só atingiu o estilo de vida que sempre quis no fim de 1991, quando ficou viúva do comerciante Nicolau Saad, aos 41 anos. No ano seguinte, engordou ainda mais a sua conta bancária, beneficiada pela morte de outro ex-marido, o coronel Jorge Ribeiro.

Mas não era só a conta dela que engordava. Com uns quilinhos a mais, seduzia velhos ricos, usando roupas chiques e desfilando em carros do ano. No casamento de Elie e Isabel Murad, em 1992, usava um chapéu de abas largas, algo raro. Na época, namorava o pai do noivo e tinha um patrimônio milionário, conquistado com a morte de três maridos.

Anos depois, Heloísa doou terrenos em Campo Grande às duas babás que cuidavam dos seus filhos. Mas a terra ainda consta no nome de Nicolau Saad, morto em 1991. As babás bem que tentaram. Mas não conseguiram ficar com o terreno de 588 metros quadrados porque o administrador do loteamento Monte Líbano, próximo à Estrada do Tinguí, pediu documentos que comprovassem a doação. Indignada, Heloísa ligou para o administrador Fernando Azevedo, de 80 anos, e tentou intimidá-lo, aos gritos.

- Ela era agressiva e gritava: “Esses terrenos são meus” - diz.

Aos 61 anos, Heloísa não temos mesmos atributos dos tempos em que ganhava a vida como viúva profissional. Hoje, a mulher que rodou o país se esconde para não parar atrás das grades.

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