O diagnóstico da dislexia, transtorno neurológico que compromete o aprendizado das palavras e a leitura, está dividindo os especialistas.
De um lado, médicos e psicólogos reunidos em simpósio internacional para debater o que chamam de "supostos distúrbios" contestam a presença de marcadores biológicos na dislexia e no transtorno do deficit de atenção e hiperatividade.
Do outro, entidades como a ABD (Associação Brasileira de Dislexia) tratam o transtorno disléxico como "uma questão de saúde pública", que pode afetar até 15% da população mundial.
Para Steven Strauss, neurologista do hospital Franklin Square, em Baltimore, EUA, são tantas as variáveis do processo de alfabetização de uma criança que seria perigoso resumi-las em uma só.
- O ato de ler só seria uma questão médica se a base biológica da dislexia pudesse ser demonstrada - afirmou.
Strauss afirma que mesmo as imagens de ressonância magnética não podem detectar a presença da doença.
- Quando a pessoa é submetida ao aparelho, ela é estimulada a ler apenas letras e palavras fora de seu contexto. Não dá para medir a incapacidade de uma pessoa dessa forma - afirma.
Para a vida toda
A psicóloga Rosemari Marquetti de Mello, presidente da Associação Brasileira de Dislexia, tem posição oposta.
- O diagnóstico do distúrbio é difícil, complexo e não pode ser fechado por um único médico, mas por uma equipe multiprofissional.
Ela diz lamentar o fato de a associação não ter sido convidada para o simpósio: "É fácil tachar sem debater".
O neurologista Abram Topczewski, autor do livro "Dislexia: Como Lidar?" (Ed. All Print) também discorda do médico americano.
- Consideram que a dislexia não existe só porque acham isso, mas temos que nos basear nas evidências e não na ideologia.
Segundo Topczewski, já foram identificados locais nos cromossomos que podem ser marcadores genéticos do distúrbio.
- É algo que a pessoa irá carregar para o resto da vida - diz o neurologista.
Educação
O debate sobre a dislexia esbarra em discussão semelhante à que envolve o transtorno de deficit de atenção e hiperatividade.
De acordo com os especialistas que criticam a suposta onda de superdiagnósticos, há uma tendência em atribuir à criança problemas que são da estrutura de ensino.
Segundo Wagner Ranña, do Hospital das Clínicas, por trás das dificuldades de aprendizado, há crianças provenientes de escolas ruins ou de famílias em que a leitura não é estimulada.
- Em 35 anos de carreira, nunca encontrei uma criança que eu pudesse diagnosticar como disléxica - conta.
Marilene Proença, presidente do Conselho Regional de Psicologia, concorda.
- Antes de nos perguntarmos por que a criança não aprende e encontrar nela o problema, temos que questionar que escola estamos oferecendo.
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