Michael Phelps, Sarah Palin e Colin Powell têm um encontro marcado no início de maio. O que vão fazer juntos o maior medalhista olímpico de todos os tempos, a folclórica estrela da oposição nos Estados Unidos e o ex-secretário de Estado americano? Vão subir em um palco na cidade americana de Baltimore como se fossem astros pop para falar sobre os altos e baixos da vida para 15 mil pessoas. Essa gente toda passará horas em pé, em filas, para assistir às palestras e tentar aprender um pouco da receita do sucesso. O seminário espetáculo se chama Get motivated (Fique motivado). É o maior evento de autoajuda dos EUA, mas representa só uma ponta dos negócios da empresária Tamara Lowe.
Tamara e o marido, Peter, administram um grupo que faturou no ano passado US$ 16 milhões apenas com a venda de produtos e serviços motivacionais – orientação pelo telefone para a vida pessoal e profissional, seminários pela internet para incentivar equipes no trabalho, podcasts para ajudar as pessoas a encontrar seu “propósito espiritual”, audiolivros com técnicas de motivação de astros do esporte e muitos outros. Eles já reuniram mais de 10 milhões de pessoas em eventos como o Get motivated. O primeiro livro de Tamara, Supermotivado (Get motivated), entrou na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times e da revista BusinessWeek em 2009 e chegou ao Brasil em abril. Nele, Tamara apresenta sua mais recente ideia: o “DNA motivacional”, um sistema que permitiria a cada um decifrar o que o motiva e, assim, renovar sempre suas energias. Nos Estados Unidos, onde a indústria da motivação movimenta US$ 20 bilhões por ano, os Lowes se firmaram como os principais conferencistas quando o assunto é incentivar as pessoas a aguentar a pressão do dia a dia e confiar no futuro.
Para os brasileiros, o conceito de um seminário Get motivated pode parecer esdrúxulo. É uma maratona de mensagens inspiradoras, iniciada às 8 horas da manhã, que atravessa o dia com três pausas para descanso. Durante mais de oito horas, pessoas famosas sobem ao palco para discorrer sobre liderança, determinação, persuasão, autocontrole, competitividade e outros temas. Tamara seleciona as atrações entre políticos, empresários, artistas e atletas para agradar a todos os gostos.
A relação próspera entre o marketing e a autoajuda não é novidade, mas o casal Lowe conseguiu alçá-la ao mundo do espetáculo, ao longo de 23 anos de trabalho. Eles usam um modelo fundado na primeira metade do século XX por Dale Carnegie (autor do livro Como fazer amigos e influenciar pessoas, de 1936) e pelo pastor Norman Vincent Pale (autor de O poder do pensamento positivo, de 1952), precursores dos seminários motivacionais, mas o temperam com luzes, celebridades e frenesi religioso. Com a recessão americana, o público cresceu: pulou da média de 10 mil pagantes dos anos 90 para 20 mil. O evento é itinerante e cobra US$ 4,99 por pessoa ou US$ 19 por grupo de funcionários de uma empresa. No público, acotovelam-se vendedores, estudantes, executivos de médio escalão e microempresários.
Tamara criou uma aura própria para sua história de vida. Na introdução do livro, afirma ter se tornado viciada aos 10 anos e vendido drogas na adolescência para poder consumi-las.
- Eu usava de tudo, menos injetar coisas na veia - diz.
Aos 17, ela teria passado por uma transformação, depois de ler a Bíblia. Voltou a estudar, entrou na faculdade e fez um mestrado. A história não chega a ser tão dramática nem tão genial, mas Tamara a usa como uma espécie de propaganda do poder da força de vontade.
O poder dos Lowes se mostra também nos palestrantes de seus eventos. Tamara não revela os cachês que paga, mas gaba-se de ter levado cinco ex-presidentes americanos para os palcos: Gerald Ford, Ronald Reagan, Bill Clinton e os dois Georges Bushs. Nove meses depois de deixar a Casa Branca, Bush filho saiu do isolamento e fez sua primeira aparição pública em um evento de Tamara em Dallas, em setembro passado. Também já participaram o cantor Johnny Cash, o ator Charlton Heston e o ex-boxeador George Foreman. “
- Logo que montamos a empresa, começamos a pensar em quem poderia aumentar a audiência. A primeira pessoa que me veio à cabeça foi o presidente Ronald Reagan - diz Tamara, que na época tinha 23 anos e era recém-casada com Peter. - Eu ligava toda semana para o escritório dele. Após cinco anos de insistência, ele aceitou.
Para ela, estava provado o poder da confiança no próprio taco.
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