O governo estuda demitir a cúpula dos Correios, indicada em agosto pela ex-ministra Erenice Guerra (Casa Civil), e só não o fez ainda porque avalia o impacto da medida na candidatura de Dilma Rousseff (PT) ao Planalto.
Erenice, que caiu em meio à revelação de que seu filho integrava um esquema de lobby dentro da Casa Civil, era braço direito de Dilma. A revelação foi um dos fatores determinantes para a perda de votos da petista na reta final do primeiro turno.
O Planalto avalia a demissão do presidente da estatal, David José de Matos, e do diretor comercial, Roberto Takahashi, ligados a Erenice.
A Folha apurou que há consenso na cúpula do governo de que a mudança é inevitável. A dúvida é o "timing". Parte acha que as demissões devem ocorrer imediatamente. Outra parte, por ora predominante na discussão, acha melhor esperar o fim do segundo turno.
Há o temor de que novas suspeitas de irregularidades na estatal venham à tona e sejam exploradas pela oposição, prejudicando Dilma.
O tema foi debatido na reunião de coordenação na segunda entre o presidente Lula, o vice-presidente José Alencar e os ministros Paulo Bernardo (Planejamento); Nelson Jobim (Defesa); Franklin Martins, (Comunicação Social); Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e Carlos Eduardo (Casa Civil).
Divergência
O ministro Paulo Bernardo e os coordenadores de campanha de Dilma Antonio Palocci e José Eduardo Dutra defendem o corte imediato. Franklin Martins acha que é melhor aguardar. Por ora, a tendência do governo é aguardar o final da eleição.
O atual presidente dos Correios assumiu em 2 de agosto por indicação da então ministra Erenice --de quem é amigo desde os tempos em que trabalharam juntos na Eletronorte. Ele é o elo que ainda resta entre a ex-ministra e o primeiro escalão.
Os Correios têm sido fonte de uma série de escândalos no atual governo e a estatal é a principal preocupação do Planalto atualmente. Erenice nomeou Matos para a presidência da estatal sob a promessa de sanear a empresa que até então estava sob comando do PMDB de Minas.
Menos de um mês depois, veio à tona a revelação de que o filho de Erenice, Israel Guerra, atuou para favorecer a empresa aérea MTA.
Ele fez lobby junto à Agência Nacional de Aviação Civil para a liberação de certificação de voo da MTA e também nos Correios, onde a empresa aérea teria fechado contratos no valor de R$ 59 milhões.
Erenice também nomeou para a diretoria de operações dos Correios o coronel Artur Rodrigues, que ficou pouco tempo na estatal porque surgiram denúncias de que ele seria testa de ferro do empresário Alfonso Rey na MTA.
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