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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Cassio Gabus Mendes fala sobre os 60 anos da TV

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No último sábado (18), a TV brasileira completou 60 anos, ele está a um passo de alcançar a metade disso. Em 2011, Cássio Gabus Mendes comemorará sua terceira década em frente às câmeras, como ator, mas desde já faz festa, não só por si, por fazer parte da história da telinha, mas também pelo pai, Cassiano Gabus Mendes, que, se estivesse vivo, receberia os parabéns e ajudaria a apagar as velinhas de um sexagenário cujos alicerces ele ajudou a construir.

Aos 49 anos, Cássio recorda do tempo em que começou a respirar televisão. Ainda muito pequeno, mesmo com toda a inocência de uma criança, percebia a dedicação do pai que chegava do trabalho e continuava trabalhando, escrevendo seus argumentos para novelas, na sala de casa. Depois, quando adolescente, acompanhava o pai mais de perto, indo à TV com ele, circulando pelos corredores da Tupi, aprendendo como era fazer televisão.

Na véspera dos 60 anos, Cássio concedeu entrevista ao site Terra. Contou algumas de suas lembranças, como as da época da escola, em que era reconhecido por ser o filho do artista de TV. Lembrou ainda, também quando no colégio, da vez em que pediu ao tio, o também ator Luis Gustavo, que fosse até a escola buscá-lo ao fim da aula para provar à turma que não mentia quando dizia ser quem era. O tio foi, e ele se sentiu bem. Coisa de criança, mas de uma criança orgulhosa de suas raízes e feliz de fazer parte de uma família que fez (e ainda faz) história.

Como é, diante da comemoração dos 60 anos da TV brasileira, ser filho de um de seus pioneiros, Cassiano Gabus Mendes?

É motivo de muito orgulho. Meu avô (Otávio Gabus Mendes) foi uns dos pioneiros do rádio e meu pai, da televisão. O primeiro diretor artístico da TV. Ele, junto com outras pessoas, experimentou equipamentos, câmeras, o trabalho ao vivo, etc. Tudo partiu dali. Muitas referências que nós temos vêm daquele tempo. Foram coisas que eu não me lembrava, mas Daniel Filho (diretor) me contou. Meu pai foi um dos primeiros a colocar uma câmara no cenário, em pontos técnicos estratégicos. E isso tudo sempre me acompanhou, eu nasci nesse meio, tinha esse contato. Quando era pequeno, meu pai era diretor da TV Tupi e eu ia até a sala dele, ficava nos corredores. Mesmo dentro de casa, tinha sempre artistas por lá.

Você se lembra de quem frequentava sua casa?

Eu era muito pequeno, mas sempre teve muito movimento em casa. Meu irmão (Tato Gabus Mendes) é um pouco mais velho e tem mais noção. Eles (pai e colegas) trabalhavam 19 horas por dia. Atuavam, dirigiam, escreviam. Às vezes eu entrava na sala, porque perdia o sono, e via meu pai dormindo na mesa. Por esse dia-a-dia de descobertas, eles dedicavam suas vidas. Chegavam do trabalho e continuavam trabalhando.

Como era, na infância e adolescência, ter um pai artista, fazendo experiências na recém-chegada TV?

A fase das experiências do meu pai foi quando ele estava na Tupi e eu era muito garoto. Depois, quando já estava adolescente, na escola, com meu pai já na Globo, fazendo novela, sempre sabiam que eu era filho de artista. Eu era muito tímido, mas depois você relaxa e faz amizade. Tinha um grande orgulho disso. E houve algumas bobagens. Me lembro de uma passagem na escola, na época da novela Beto Rockfeller. O Beto era o Luis Gustavo, meu tio, irmão da minha mãe. E eu enchi tanto a paciência dele e da minha mãe, porque eu era novo na escola e as pessoas não acreditavam que ele era meu tio. O Beto Rockefeller era o cara. E o cara era meu tio, pô! Um dia o Luis Gustavo foi me buscar na escola. Falei para chegar mais cedo, parar bem na frente e esperar eu sair. Só assim para eles acreditarem. Devia ter uns 10 ou 11 anos. A gente fica meio 'bancudo' depois. Nunca fui muito disso, mas de qualquer forma, é uma experiência que faz parte desse histórico todo.

Quando começou a pensar em ser ator?

Minha mãe foi atriz de rádio, meu pai era radio-ator. Na verdade a gente nunca sabe quando isso começa. Em momento algum meus pais me falaram para ser ator. O incentivo era sempre para estudar e mais à frente ver o que seria melhor. Como eu sempre acompanhei o trabalho deles e tinha uma fascinação por TV, fazia muito teatro amador no colégio, também fazia aulas de música, flauta doce. Fui fazendo na minha trajetória de criança e adolescente. Fui pegando gosto. Depois, fiz teatro profissional. Queria experimentar. Tinha 18 para 19 anos. Comecei fazendo uma pontinha na TV Cultura, em 1981, tremendo feito vara verde.

E como foi para seu pai saber que queria seguir carreira?

Não foi nenhuma surpresa. Ele já sabia, porque as coisas foram acontecendo. Comecei aos poucos, devagar, como eu acho que tem que ser feito no início. Sou muito grato, porque até hoje sempre sou requisitado para fazer trabalhos com diretores bacanas. Na televisão, é difícil ter uma oportunidade. Mas, mesmo assim, as chances são mais fáceis do que conseguir se manter na TV. Sou uma pessoa privilegiada.

Com relação ao conteúdo apresentado pela TV brasileira hoje, temos a Hebe Camargo, outra pioneira, que tem criticado bastante a exposição do corpo feminino pelos programas. Qual sua opinião sobre isso?

Eu acho que a coisa é mais abrangente. Existe a luta pela audiência, e não é só a exploração do corpo, mas da miséria, da violência. Tem milhões de pontinhos que a gente pode incluir nesse jogo. Isso pode ser tratado de outra forma, mas tem uma coisa que acho perigosíssima: a proibição. É proibido proibir. Isso é básico. Você tem que ter critérios de horário, sim. Mas também existe o controle remoto. Você tem a facilidade de mudar de canal. Essa discussão, na verdade, é confusa. O que eu posso dizer é que o popular pode ser feito com qualidade. Bem elaborado, escrito, bem mostrado, bem dirigido, conduzido. O popular não precisa ser escrachado, puro mundo-cão. Também acho que a gente tem que mostrar as coisas, sim. As pessoas têm que saber o que acontece. Mas se deve ter cuidado com o que se faz para atingir sua meta. A televisão necessita de audiência. O rádio também, talvez um pouco menos. Agora, você apelar, é uma coisa. Mas, proibir é grave.

Então você acha que poderia haver mais critério?

Sim, mas são várias áreas. É difícil atravessar uma área e falar. Eu não assisto muitas coisas porque não me interesso. Me permito fazer isso se não estou a fim de ver. Acho que o caminho é esse.

Existe algo que você gostaria de ver na TV e ainda não vê?

A falta de programação é clara. Existem vários canais, por exemplo, na TV fechada, e faltam ideias, ou oportunidades de apresentar essas ideias, seja culturalmente, ou em vários segmentos. Tem muito serviço a se prestar, muita teledramaturgia a se fazer, com formatos diferentes, para se chegar à cultura, ao incentivo da leitura. Às vezes você perde três pontos (na audiência), mas ganha em qualidade.

Já que falou em audiência, você acha que a TV é do jeito que é em razão do que o telespectador quer, ou a audiência também seria boa se outros produtos, talvez com maior qualidade, fossem oferecidos?

Você apresenta um trabalho. Evidente que ele (telespectador) tem suas preferências, mas com certeza está aberto. Ele não é burro. Acho que é muito mais responsabilidade de quem realiza do que de quem assiste.

Com qual frequência você assiste TV e o que gosta de ver?

Vejo muitos filmes, novelas, jornalismo e alguns programas de esporte. Sempre que posso, não é todo dia. Evidente que, com nosso ritmo de vida, não dá para ficar em frente à TV direto. Vejo programas de debates. Não de políticos, mas culturais. Honestamente, já vi os debates políticos e esse tipo de informação, infelizmente, eu deleto.

Você acha que não atingem o objetivo a que são propostos?

Qual objetivo? Nunca atingiu. Isso de: 'meu número é 000 e eu faço macarrão', não me interessa. Estou reparando que isso vem das eleições desde a primeira. Não sei se estou ficando velho, mas, da forma que está, não perco meu tempo mesmo!

Voltando um pouco a se espelhar em seu pai, você gostaria de se enveredar por outras áreas na TV, como ele fazia, atuando, dirigindo e escrevendo?

Eu gosto muito da minha profissão. Mas sempre gostei também da programação técnica, sentir como funciona isso. Lado comercial, como formar programação. Mas seria difícil nessa altura, acho. Não sei. Talvez.

E a história de que você faria uma participação em Ti-ti-ti, é verdadeira?

Se farei participação, não sei. Ninguém me falou disso. A Maria Adelaide (a Amaral, autora de Ti-ti-ti) me chamou para participar da novela, mas eu já tinha acertado com o Gilberto Braga, um ano e meio antes, de fazer a nova das oito, que vai entrar no lugar de Passione. Fazia muitos anos que eu não trabalhava com ele. Senão, estaria fazendo Ti-ti-ti.

Qual personagem vai interpretar na trama?

Um jornalista, sério, mas complicado. Começo a trabalhar nisso daqui a um mês, mas só entro a partir do capítulo 30.

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