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quinta-feira, 15 de julho de 2010

USP usa maconha em tratamento de fobias sociais

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Uma das mais de 400 substâncias que compõem a maconha pode ajudar pacientes que sofrem de transtorno de ansiedade social. Segundo estudo feito pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), voluntários submetidos a testes com cápsulas de canabidiol apresentaram menos ansiedade do que aqueles que foram tratados com placebo.

- O transtorno conhecido como fobia social caracteriza-se pela ansiedade exagerada durante exposição a situações sociais, o que impõe limitações à vida da pessoa - afirma o professor Antonio Zuardi, do departamento de neurociências e ciências do comportamento da faculdade da USP. - Esta ansiedade é manifestada fisicamente por meio de taquicardia, sudorese, aumento de pressão arterial, falta de ar e tremores.

A pesquisa feita pelos departamentos da universidade se dividiu em dois trabalhos. O primeiro estudo submeteu a um exame dez estudantes universitários que sofrem de fobia social. Os voluntários tiveram suas atividades cerebrais monitoradas em uma espécie de tomografia por duas vezes: ao tomar uma cápsula placebo e outra com canabidiol. “O que se verificou por meio das imagens foi que quando eles tomavam o placebo o nível de ansiedade era maior”, diz Zuardi. Ao consumir o remédio, as áreas normalmente hiperativadas naqueles que sofrem de fobia social tiveram atividade reduzida.

O segundo estudo foi feito com três grupos de doze pessoas cada. Um com pacientes com fobia social que receberam placebo, outro com pacientes que tomaram a cápsula de canabidiol e um terceiro grupo com voluntários que não sofrem do transtorno.

- Foi feito um teste que reproduz um sintoma muito comum na fobia social, o medo de falar em público. Durante o experimento, os voluntários receberam a orientação de preparar um discurso de 4 minutos em frente a uma câmera de vídeo - afirma Zuardi. - O que se verificou é que os que tomaram placebo tiveram aumento de ansiedade, enquanto os voluntários que tinham fobia social e tomaram canabidiol tiveram nível de ansiedade semelhante àqueles que não sofrem do transtorno.

Segundo Zuardi, o canabidiol está sendo estudado desde a década de 1970, mas ainda não se sabe exatamente como a ação da substância no sistema nervoso central está relacionada com seus efeitos terapêuticos. O professor ressalta que para compreender os efeitos da droga sobre os pacientes de fobia social seriam necessários testes de uso contínuo da substância. Este transtorno de ansiedade pode ser tratado com psicoterapia e remédios, mas, segundo Zuardi, se a hipótese da utilidade do canabidiol se confirmar, haverá vantagens.

- Entre as drogas utilizadas atualmente no tratamento da doença as principais são os antidepressivos, que demoram de 15 dias a um mês pra começar a fazer efeito. Esse experimento mostrou resultados com uma única dose - diz.

No Brasil, o uso desta substância também tem sido estudada com a finalidade de auxiliar pacientes do mal de Parkinson. Caso os efeitos sejam confirmados, o Brasil necessitaria de autorização para o uso medicinal da maconha.

- Seria necessária uma agência reguladora. Não adianta ter uma lei que autoriza se não há como regulamentar esse uso - diz Zuardi.

O professor afirma que o Canadá e o Reino Unido são os únicos países com medicamento liberado com a substância, o remédio Sativex, usado para amenizar a dor de quem sofre de esclerose múltipla.

Após a prisão do baixista da banda de reggae Ponto de Equilíbrio, Pedro Caetano, acusado de tráfico de drogas por cultivar dez pés de maconha e oito mudas da planta em sua casa, um grupo de neurocientistas escreveu uma carta pública sobre o tema. No texto, afirmam que no congresso da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC), em setembro, será realizado “um painel de discussões a respeito da influência da maconha sobre a aprendizagem e memória e também sobre as políticas públicas para os usuários”.

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