Um estudo conduzido pela Universidade Brigham Young (BYU), nos Estados Unidos, mostrou que tratar a depressão por telefone é quase tão eficiente quanto o tratamento presencial. O estudo será publicado na edição de junho da revista Behavior Therapy. O resultado do estudo divide os médicos consultados. O CFM (Conselho Federal de Medicina) não reconhece a prática.
Os pesquisadores analisaram o tratamento de 30 pessoas, todas diagnosticadas com depressão profunda. Em vez de realizarem oito visitas às clínicas, os pacientes receberam o mesmo tratamento por telefone, com ligações que duraram entre 21 e 52 minutos. Nenhum deles foi medicado com antidepressivos.
Em seis meses de tratamento, 42% dos pacientes tinham se recuperado da depressão. Como comparação, a terapia presencial tem uma taxa de 50% de recuperação, segundo os pesquisadores. Contudo, a terapia por telefone foi rejeitada por um terço dos participantes, que preferiram o tratamento na sala do psiquiatra.
De acordo com a professora de Psicologia da BYU, Diane Spangler, uma das autoras do estudo, o tratamento por telefone é mais amigável, tem mais flexibilidade de tempo e de lugar e não apresenta efeitos colaterais.
- Oferecer um telefone ou uma webcam para o terapeuta é justificado do ponto de vista da eficácia.
Médico tem de ver o paciente
Não é o que pensa o psiquiatra Táki Cordás, do Departamento de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), que diz não acreditar ser possível recuperar pacientes com depressão profunda por telefone e acha que o método é antiético.
- Precisamos saber qual tipo de depressão estamos falando. Os melhores modelos de tratamento atuais não prescindem do tratamento farmacológico. Tratar a depressão sem o tratamento farmacológico é antiético.
Ainda segundo Cordás, a discussão atual está em um outro momento, focada em como o tratamento presencial, associado à medicação, pode ter uma resposta mais rápida.
- É bastante temerário comparar os dois tratamentos, presencial e por telefone, quando nem se tem certeza de que o tratamento presencial é eficaz.
Avanço ou falta de ética?
Já o também psiquiatra Daniel Martins de Barros, do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), vê a pesquisa com polêmica, mas também como um possível avanço da medicina, desde que seja testada por outros centros de pesquisa e comprovada sua validade.
- Não dá para dizer que quando estiver com depressão não é para ir ao médico. Mas o uso do telefone na medicina, assim como o da internet, causa estranheza. Se o teste for replicado e testado em outras culturas, a medicina não pode ignorar o resultado. Não é porque é polêmico que deve ser desprezado.
O novo Código de Ética Médica, lançado recentemente pelo CFM, evidencia a questão. Seu artigo 37 diz: "É vedado ao médico prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente após cessar o impedimento".
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